quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

As ruas da nossa vida





Eram ai umas 10.30 e  estacionava num lugar de motociclos, numa perpendicular à Rua do Ouro a Rua da Assunção.
Esta invulgarmente frio, o termómetro de rua anuncia 6º C , enquanto arrumo as luvas no porta luvas, os meus olhos fixaram-se numa porta, com a indicação de acesso ao Armazéns do Chiado.
O meu pai apareceu-me como um fantasma e explicou-me que era uma porta secreta para os Armazéns do Chiado, entrámos num elevador de mão dada, teria uns onze anos,  vagarosamente o ascensor chegou ao seu destino , o porteiro anunciou "Armazéns do Chiado" , demos por nós no cruzamento da Rua Garret , subitamente o meu pai não estava mais comigo e eu já não tinha onze anos ,a paisagem era diferente. Novamente, na Rua do Carmo, do lado esquerdo, sobre a fachada de uma loja em francês diz          "Au Bonheur des Dammes" ,tenho agora uns dezoito anos, vou a caminho da Universidade, vejo o corrupio de gente que sobe e desce em passo rápido, detenho-me na montra da mais fina perfumaria de Lisboa.
Sinto a minha avó.
Channel. 
Desço a rua do Carmo, passo por um dos recantos que mais me apaixona na baixa, a loja das luvas, igual ao longo de mais de cem anos. Não consigo evitar o  namoro, a pelica fina em exposição.
Uns metros mais abaixo, existiu num primeiro andar, o escritório de correspondência do Jornal  1º de Janeiro, tenho uns vinte anos, sou aprendiz de Jornalista e vou lá  ter com o veterano, o Ribeiro Soares, depois, almoço no Café Nicola, do Rossio.
Entrando pela Rua do Ouro, regresso aos treze anos e estou em frente ao escritório do Professor José Hermano Saraiva, belas aulas de história , da História de Portugal.
O Pitinha o Manel a Ana a Teresa e o professor, que gozava a nicotina de um SG Ventil e a contava a história do monsieur Nicott. Uns metros antes, a ourivesaria do Senhor Correia, o ourives da família, de repente, estou no ponto de partida.
As ruas da nossa vida estão cheias de fantasmas. 
Que bom descobrir , que tenho sobrevivido aos anos.    

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