segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A 3 dias de 2016




Estou vazio
a 3 dias do novo ano
estou exausto.
Envelhecer é difícil,
viver não é fácil,
penso em mim,
em nós,
nas nuvens brancas
que precedem céus negros.
Parto sem certezas
para o novo ano.
O que me estará reservado?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

As ruas da nossa vida





Eram ai umas 10.30 e  estacionava num lugar de motociclos, numa perpendicular à Rua do Ouro a Rua da Assunção.
Esta invulgarmente frio, o termómetro de rua anuncia 6º C , enquanto arrumo as luvas no porta luvas, os meus olhos fixaram-se numa porta, com a indicação de acesso ao Armazéns do Chiado.
O meu pai apareceu-me como um fantasma e explicou-me que era uma porta secreta para os Armazéns do Chiado, entrámos num elevador de mão dada, teria uns onze anos,  vagarosamente o ascensor chegou ao seu destino , o porteiro anunciou "Armazéns do Chiado" , demos por nós no cruzamento da Rua Garret , subitamente o meu pai não estava mais comigo e eu já não tinha onze anos ,a paisagem era diferente. Novamente, na Rua do Carmo, do lado esquerdo, sobre a fachada de uma loja em francês diz          "Au Bonheur des Dammes" ,tenho agora uns dezoito anos, vou a caminho da Universidade, vejo o corrupio de gente que sobe e desce em passo rápido, detenho-me na montra da mais fina perfumaria de Lisboa.
Sinto a minha avó.
Channel. 
Desço a rua do Carmo, passo por um dos recantos que mais me apaixona na baixa, a loja das luvas, igual ao longo de mais de cem anos. Não consigo evitar o  namoro, a pelica fina em exposição.
Uns metros mais abaixo, existiu num primeiro andar, o escritório de correspondência do Jornal  1º de Janeiro, tenho uns vinte anos, sou aprendiz de Jornalista e vou lá  ter com o veterano, o Ribeiro Soares, depois, almoço no Café Nicola, do Rossio.
Entrando pela Rua do Ouro, regresso aos treze anos e estou em frente ao escritório do Professor José Hermano Saraiva, belas aulas de história , da História de Portugal.
O Pitinha o Manel a Ana a Teresa e o professor, que gozava a nicotina de um SG Ventil e a contava a história do monsieur Nicott. Uns metros antes, a ourivesaria do Senhor Correia, o ourives da família, de repente, estou no ponto de partida.
As ruas da nossa vida estão cheias de fantasmas. 
Que bom descobrir , que tenho sobrevivido aos anos.    

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O Meu Postal de Natal chama-se Presente







Presente é entre outras coisas, algo gravado na mente, no coração, diferente de esquecido (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)
Palavra extraordinária, para ser dissecada nesta época do ano e também da vida , já escorreguei do meio século.
Presente , será que o menino, Jesus, está presente na nossa vida ? E os princípios não terão sido esquecidos? 
Quantos vão ler e pensar; que coisa beata , quem se lembra ainda destas coisas , como presépios e o menino Jesus, será que este não tem nada mais interessante para escrever, deve querer chamar a atenção. 
É verdade, o meu propósito foi pegar na palavra presente e chamar a atenção de todos os meus amigos , a todos os que têm a paciência, de me acompanhar nestes pequenos textos do quotidiano. 
Preocupamo-nos todos com esta noite única no ano,preocupamo-nos com presentes, mas não estamos presentes. Não nos preocupamos com o que ela representa, com o facto principal, que está presente nesta noite. 
Ter o amor Presente no nosso coração, ter a capacidade de estar presente no seio da família que nos acolhe e tentar renascer, corrigir , recomeçar a ter presente que se somos crentes, que temos fé , que acreditamos que Cristo nasceu para nos ter no Coração, para estarmos presentes.
Não tenham medo , já têm idade para assumir a vossa fé.
 


domingo, 20 de dezembro de 2015

Velhos Amigos








No fascinante mundo da Internet e das redes sociais, encontrei há dias um colega de escola, de há muitos anos.
Fomos próximos, se não fosse forreta nos adjetivos, diria mesmo que fomos amigos.
Palavra puxa palavra e combinámos um café. 
Eu apresentei-me de cabelo branco e barriga proeminente , ele sem cabelo e seco. 
Falamos primeiro sobre outros tempos, falamos depois sobre aqueles tempos e por fim sobre os nossos tempos , sobre a vida. 
Fiquei a saber que está doente, desempregado, divorciado e sozinho. 
Disse-me , vai passar a noite de Natal, no quarto onde vive , acompanhado pela fotografia dos dois filhos. Que compreende , que cada um tem a sua vida, que um tem uma filha, que o outro quer comprar uma mota nova.
Um mora em Espanha o outro em Inglaterra.
Perguntei-lhe se tinha dinheiro , respondeu-me que pouco. 
Fui ao multibanco, levantei o pouco que me é possível e deixei-lhe.
Um homem culto, um bom Pai, um bom trabalhador a quem a doença e a má sorte ofereceram a solidão.
Tantos de entre nós com cinquenta ,sessenta anos conhecemos casos idênticos.
O que aconteceu a nossa geração ?       

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Parvóas e parvos

Falava com um amigo, que se me queixava da quantidade de gente que frequenta a política, quer como atores quer, como comentadores e que são inequivocamente pouco criativos, a maioria parados no tempo, continuam a usar expressões como " as forças do Capital" ou " O imperialismo" ou melhor ainda "vampiros da classe operaria e do povo" etc.
No meio da conversa, o David (o amigo com quem falava) , confessou o seu cansaço, perante tanto parvo. Parvo é como a maioria das nossas palavras, de raiz latina e significava ; (latim parvulus, -a, -um, diminutivo de parvus, -a, -um, pequeno) in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Significa portanto pequeno. 
Ao olharmos para os parvos da pequena política , verificamos que efectivamente, do BE ao CDS, há uma quantidade de pequenas criaturas, que constantemente em bicos de pés, procuram protagonismo nos media.
São os parvos da nossa Política. 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Felicidade






Há momentos que são gostosos.
Momentos que por mais curtos que sejam, sabem-nos bem.
Afinal, se não tivessem principio, meio e fim não os podíamos saborear, não geravam memórias, nem criavam desejos.
Aqueles poucos minutos que nos sabem pela vida, em que estamos próximos, em que partilhamos um pouco do nosso dia.
Dois minutos ao telefone.
Aquele encontro fugaz que não acontecia há anos, onde falamos como se tivéssemos ido ao futebol na véspera.
Dois minutos de café.
Quando os nossos olhos se encontram ao final do dia , quando fazemos o jantar.
Dois minutos ao fogão.
Quando deitamos os nossos filhos e rezamos o anjo da guarda.
E ha dois minutos de carinho.
Felicidade é isto mesmo, um somatório de momentos mais ou menos fugazes , mas todos muito bons.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Tudo o que gostava de ter feito










Sempre que se  faz um recomeço é normal pensar em tudo o que gostávamos de ter feito e não fizemos .
O acompanhamento da infância dos nossos filhos, agora grandes, o livro que ainda não tivemos tempo para ler, a viagem em que nunca embarcamos, a pergunta que não fizemos ao nosso avô e que já não podemos fazer, o curso/especialização, que gostávamos de tirar,  em fim, toda uma sequência de coisas que sempre pensamos fazer e que em alguns casos já não temos hipótese.
Paralelamente também há, as coisas que sonhamos ter e nunca tivemos. 
E ainda o mais importante que é precisamente aquilo que tivemos sempre, que esteve sempre ali e que não aproveitamos,que não valorizamos .
Não sei dizer melhor , são os arrependimentos.
Sei , que só mais tarde no rodar da vida se ganham estas consciências. 
O Natal é a celebração de um recomeço, o momento em que se nasce para uma mudança para uma nova oportunidade. 
Essa é a melhor prenda que o Natal nos traz. 
Pelo menos é assim que eu O sinto.  

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Silêncio


Silêncio 
Silêncio quase total.
Passa um carro na rua 
Volta o silêncio
O vizinho de cima mexe-se na cama , o soalho range,
maldito silêncio
Esse silêncio que nos vai cortando, como um gume bem afiado,
Faz-me doer o peito 
É só um silêncio de morte.
Mas morre-se, sempre em silêncio. 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Uma Janela pro Cristo Rei


Na noite fria, olho da minha janela para o Cristo Rei, que me vigia lá de longe.
Sei que onde quer que vá, o seu manto protector estará lá.
Não há forma de fugir ao seu olhar .
Mais tranquilo, vou-me deitar.
Sonhar com sítios longe.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Os Bosques das saudades




Hoje, uns amigos foram ao Alentejo, espalhar as cinzas da Mãe e plantar uma árvore em memória Dela.
Achei que era um dos gesto  mais bonitos que tenho visto na morte de alguém que se ama. 
Fechei os olhos por momentos e imaginei, que todos nós fazíamos o mesmo. Ao longo da vida, íamos fazendo o bosque da nossa família. Podíamos aproveitar para reflorestar o país. 
Todas as famílias, iam plantando um bosque e assim o país ficava cheio de bosques , uns maiores, outros mais pequenos ,mas uma referência aos que amámos. 
Há dias li um artigo sobre a cremação, em que se acentuava que esta nova "moda" , não deixa um sitio, uma placa, nada onde possamos chorar as nossas saudades.
A ideia de plantar uma árvore e aduba-la com as cinzas de quem partiu é pela sua simplicidade de uma beleza incrível , esmaga-nos. 
Por mim está adoptada. 
Que maravilha.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Conceptio






 "Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in te" Vulgata

O acto da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, efectuado com a maior solenidade por D.João IV a 25 de Março de 1646, transformou Nossa Senhora, na verdadeira Rainha de Portugal, não voltando por isso, desde aí, nenhum dos nossos Sobranos a ostentar a coroa, direito que passou a pertencer apenas a Nossa Senhora , Rainha de Portugal  e  Mãe do Deus menino Jesus.
O 8 de Dezembro é demasiado importante para deixar de ser feriado ,mas tem no entanto sido esvaziado da sua importância , pelas supremas autoridades nacionais.
O dia 1º de Dezembro representa a data do movimento em que se declara a restauração da independência nacional, mas o dia de Nossa Senhora da Conceição é como que uma ratificação dessa mesma independência.
Quer tenhamos fé ou não, D.Afonso Henriques no cerco de Lisboa pede ajuda a nossa Senhora e é lhe concedida uma vitória. D.João I e o Condestável pedem ajuda, também a nossa Senhora nos momentos que antecedem Aljubarrota e é lhes consentida uma vitoria sendo construido o Mosteiro de Santa Maria da Vitória , D.João IV entrega-se a nossa Senhora e consegue restaurar a independência de Portugal.
Esta fé e devoção por Nossa Senhora fizeram  Dela a Rainha de Portugal .
Hoje e sempre , Avé Maria,  O cheia de Graça.  

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Dos Capuchos


Sentado no corredor, tento alhear-me do que me rodeia, foge-me o pensamento para os lados da imaginação , pego no nome dos Capuchos e substituo os doentes que estão por aqui,espalhados, pelos  monges com Capuchos. Oiço cânticos gregorianos , penso em Santo Agostinho, que dizia que "quem canta ora duas vezes" e sou interrompido "...Dª Isabel Silva é favor entrar para a sala de espera da..." os cheiros , os gemidos , as conversas de corredor , o choro das criança, tudo faz parte de um calvário que termina sabe-se lá onde. 
Chega a minha vez , um gigante, com sangue das Africas, acompanha-me ao tratamento, da-me os contrastes e vai falando de whisky irlandês, uma simpatia. 
Termina o que cá vinha fazer e Onilo, despede-se e com graça dizendo-me, Onilo ,não esqueça não é O'Neill.
Dou uma gargalhada e saio, com a fantástica sensação de que os hospitais públicos têm gente extraordinária. Ponho o capacete, engreno a primeira e volto a ouvir os monges.    

domingo, 6 de dezembro de 2015

Lisboa está mais Vazia


Dezembro está ai e desta vez com dias muito bonitos e com pouca chuva.
Vivo na cidade, numa zona tradicional e tenho sentido nos últimos dias a falta da estrangeirada.
Nos dois últimos anos, Lisboa tem tido um aumento muito grande no movimento de turistas. As rua ficam apinhadas de gente de varias paragens, que com surpresa se rendem a Rainha do Tejo.
Um dos mais emblemáticos proporcionadores de momentos Lisboetas é o Electrico 28 ,que  começa a sua deambulação Lisboeta no Cemitério dos Prazeres, onde os turistas fazem uma longa fila para poderem embarcar no Amarelo de Lisboa. Por Campo de Ourique fora,  desagua na Estrela, onde mais umas largas dezenas esperam pacientemente por um lugar. Calçada da Estrela abaixo passa por São Bento, atravessa a Dom Carlos I e arranca a toda a brida pela calçada do Combro acima, para prestar homenagem ao Camões e de seguida escorrega pela António Maria Cardoso  aterrando na Baixa. Saem uns, entram outros e la vai ele pela Sé até as Portas do Sol.  Mais uns quantos empurrões, mais umas saidas e outras tantas entradas, toca a sineta e  por ruas e ruelas, cumprimenta São Vicente para descansar na Graça que é uma Graça.
Em Dezembro os turista tiram férias e Lisboa fica mais vazia.
Mas sempre a Rainha deste nosso Portugal.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Pinheirinho




Pinheirinho, pinheirinho
De ramos verdinhos
P'ra enfeitar, p'ra enfeitar
Bolas e bonequinhos. (bis)

Uma bola aqui
Outra acolá
Luzinhas que tremem
Que lindo que está.

Olha o Pai Natal
De barbas branquinhas    
Traz o saco cheio
De lindas prendinhas.

É Natal, é Natal
Tudo bate o pé
Vamos pôr o sapatinho
Lá na chaminé.
(letra não sei de quem é)

Faz-me lembrar as crianças pequenas a cantar.
Sem sabermos o Natal é uma festa das crianças desde 1844 quando D. Fernando II resolveu colocar um pequeno pinheiro com as prendas para os seus filhos .
Desde essa data foi-se popularizando, é hoje o símbolo preferido das crianças.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Homens de varias sortes







"A saudade é um sentido do coração que vem da sensibilidade e não da razão". Duarte I Rei de Portugal e dos Algarves.
Dom Duarte escreveu vários livros e deixou-nos um ensinamento sobre o saber,que é mais ou menos o seguinte;
 Há três tipos de homens , os que não sabem e não sabem que não sabem, os que não sabem e julgam que sabem e os que sabem e sabem que sabem. Quanto aos primeiros são os pobres de espírito há que ajuda-los , quanto aos segundos são os tolos há que mante-los afastados, quanto aos últimos são os sábios há que segui-los.
O nosso dia a dia está cheio de tolos e de pobres de espírito ,faltando-nos os sábios.
Cada vez estou mais sensível e menos racional





quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A consoada






Três semanas, sim faltam 3 semanas certas para a consoada. A palavra consoada vem como quase todas do Latim  "consolata" que significa consolar e as famílias fazem na noite de 24 de Dezembro, uma refeição reforçada.
Talvez por ter raízes mais profundas no Norte, a consoada era "a  noite". Esperava um ano inteiro por aquela noite,quer pela junção da família,quer pela mesa especialmente posta e como qualquer criança pelos presentes.
Tenho até memórias olfativas, daquela noite mágica, as pencas , as batatas, as cebolas , os ovos e o bacalhau eram servidos em grandes travessas, os olhos maiores que as barrigas ,às vezes exageravam. Os maiores acompanhavam com alho picado, azeite e colorau, que misturavam e faziam como que um molho. Abria-se um bom vinho e jantava-se no meio da maior confusão.
Ao crescer a visão do Natal e da consoada altera-se substancialmente.
A consoada tem perdido o seu significado , as famílias alterarão-se na sua estrutura e nós somos hoje os mais velhos à mesa, tirando algumas exceções em que as gerações que nos antecedem ainda têm os seus representantes.
O consumismo trouxe pressão orçamental e as tensões familiares agudizaram-se.
Não será melhor nem pior do que foi, é diferente.
Nas próximas três semanas fazem-se contas , negoceiam-se presenças e lugares e gera-se um enorme stress.
A ideia da consoada era bem mais simples, fazer uma refeição reforçada com a família para celebrar o nascimento do Menino, com muita alegria.
Era realmente diferente.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Amor






Será que se ama sem condições ?
Com que espírito amamos?
Será que o amor ,que magoa, que faz doer, é o mesmo que se chora?
A dor que se sente é boa ?
A maldição da paixão é servida fria ou num forno quente?
Creio nada saber sobre o amor.
A sua complexidade é tanta que não traz felicidade a quem o questiona .
O amor pode ser tudo e pode ser nada.
Pode ser de mãe, de mulher, filho, amante e até de marido, mas é sempre um amor com condições, que luta contra o destino de uma paixão.
Quem tem um amor sem condições , não tem um amor, tem uma paixão e doentia.
O amor tem que impor condições.
Por este andar, acho que  ainda o hei-de compreender.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Mãe






A mãe de um grande amigo partiu ontem.
Situação normal diria mesmo corrente para quem tem mais de cinquenta anos. Mas quando digerimos estas partidas , ficamos todos,  com o estatuto de órfãos, a morte , não sendo um fim para um católico é um momento de rotura.
A morte da nossa mãe não pode ser explicada , não se aceita , era a nossa.
Julgo que a dor dessa partida é sempre dilacerante, mas para nós homens , talvez mais marcante que para as mulheres, pelo facto de termos sido criados dentro delas e do nosso ventre, não ter a capacidade de gerar nada. Uma noção de imperfeição , de incompleto que explica a relação que em regra os filhos têm com as mães.
Conheci mães completamente diferentes; a mãe intelectual , a mãe galinha, a mãe-pai , a mãe castradora , a mãe prisioneira, a mãe doente ou mesmo a mãe ausente, mas o que faz de todas elas mães é que a nossa existência dependeu sempre delas.  Foi através de um grito chorado que no mais profundo dos silêncios nos fizeram vir ao mundo, grito de felicidade que nos acompanha a vida toda e que só se extingue com a sua vida terrena.
O efeito nos filhos é gigantesco. São aquela referência, que mesmo que tenha morrido para nos dar a vida , nunca morre, nunca.
A mãe em geral da-nos tudo e não fica com nada, a única que nos cuida sem nada querer em troca.
Tanto na vida como na morte, Mãe é sempre Mãe.
Mesmo que tenha partido, Mãe, está sempre teimosamente dentro da gente.


Vidas sem Amor

Conheci uma historia que me deixou pensativo.
Uma historia que faz lembrar o anuncio a um livro, que foi lançado há dias, em que se relata a história de um avô, que por amor perdeu tudo (qualquer coisa tipo Embaixador Pinto Coelho)
A historia que ouvi é a de um homem ,que provinha de uma família numerosa e que também ele constitui-o uma família com uma meia dúzia de filhos . Um dia, na erosão normal de um casamento de cerca de trinta anos, conheceu uma mulher, mais nova, apaixonou-se e em nome desse amor deixou tudo, filhos, casa, trabalho, amigos, tudo.
A sua dedicação foi total, mas ela aproveitava-se da sua dependência emocional e extinguia nele a sua capacidade de se reorganizar, mantendo-o perdido naquele amor que desaguava num oceano de indiferença sem saídas.
Fiquei sem perceber se ela gostaria dele, fiquei com a ideia de que ela não seria uma pessoa com um rumo, mas que gostava sobre tudo de dimensão humana deste homem culto e charmoso. (É difícil avaliar uma pessoa através de uma descrição , através de um relato).
O que me impressionou foi o o desenlace deste romance.
Depois de ser rejeitado pelos filhos , pela família e pela mulher que amava sem condições , depois de perder todo o seu património viu-se numa situação sem soluções , optou pela rua , pelas estrelas. Quando falei com ele, fiquei esmagado com a serenidade, com a cultura, com os gestos finos. Perguntei-lhe se não gostaria de ajuda para entrar em contacto com os filhos ou com a família de que era oriundo. A resposta foi " nenhum deles quer assumir que por amor, a vida pode dar uma volta. Nunca poderia ter vivido com a dúvida de que poderia vivenciar um grande amor no Outono da minha vida, foi bom, não me arrependo, apenas pago o preço da minha audácia, é um direito que tenho"
Agradeceu as roupas que lhe tinha entregue e afastou-se com uma passada pausada.
Dobrou a esquina e eu sentei-me no degrau do passeio.